Por Weslley Barbosa
A primeira vez que ouvi falar da revista foi através de uma rápida conversa com João Matias Oliveira, contista e editor da Blecaute. Ao encontrá-la na internet e iniciar a leitura, já percebi que se tratava de um novo marco para as letras de nosso estado. Se a geração Garatuja, na década de 1970, ficou marcada como uma ousada e brilhante iniciativa, dando voz aos então jovens escritores de seu tempo (e que hoje fazem parte do cânone literário de nosso estado, tendo se tornado leitura obrigatória para quem deseje auscultar os mais variados liames de nossa identidade cultural - José Antônio Assunção, Antônio Morais de Carvalho, Bráulio Tavares, Jackson Agra, entre outros), me parece que a Blecaute vai no mesmo caminho.
Ou talvez vá até mais além. Não apenas por circular no âmbito da internet e de forma gratuita. Não apenas por já contar com um número extremamente representativo de edições. Diria que, principalmente, seu sucesso se deve ao fato de ter extrapolado as rígidas fronteiras provincianas que muitas vezes condenam a cultura de nosso país a semelhar muito mais um conjunto de células independentes e mesmo concorrentes, que propriamente um sistema integrado e dialogal. Se muitos dos nossos grandes escritores estão "condenados" a contar seus leitores em pouco mais que algumas dezenas, se muitos dos suplementos já lançados ao público se configuram hoje como verdadeiras relíquias perdidas no tempo e no espaço, se, num momento de pura lucidez e correta percepção o professor e poeta Antônio Morais de Carvalho me falava (numa frase que não canso de repetir) que "a melhor forma de manter-se inédito é publicar na Paraíba", acredito que a revista de que hora falo dá um importante passo de reação contra essa realidade.
Blecaute, cada vez mais tem se firmado como um pululante bioma cultural, não encontrando fronteiras geográficas, sociais ou culturais. Lida e comentada tanto pelos leitores comuns como por nomes já conhecidos dos meios culturais, a revista se configura por um lado como uma vitrine onde novos talentos são expostos à contemplação e análise e por outro como ponto de encontro e debate entre pensadores.
Longe de limitar-se aos escritores locais, a publicação parece entender que a cultura nasce do contato, não do isolamento. Não há cultura de um só nem de uns poucos. Cultura é e sempre será recriação, fusão e mesmo, porque não, choque, mas sempre sob o imperativo do contato e do diálogo. Assim, conseguindo ser regional ao passo que abraça o universal, tem sido coerente com o próprio veículo no qual circula.
Para mim, que tenho dedicado os últimos quatro anos ao estudo da literatura paraibana, a Blecaute serve ao mesmo tempo de fruição e objeto de estudo, meio de contato com a arte e alento, fonte de esperança renovada a cada nova edição, de encontrar novas pérolas com as quais adensarei minha coleção de jóias culturais do nosso estado (novos nomes que, no futuro, poderão integrar o cânone, assim como aconteceu a muitos da já referida Garatuja). Abraço a nona edição e congratulo os editores que, paradoxalmente ao título da revista, têm difundido luz, num contexto onde cada vez mais tentam imperar as sombras.
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