terça-feira, 15 de março de 2011

DITOS E NOTAS

1. Depois de mais de uma semana o ditos e notas volta á ativa, com informações quentinhas sobre o campo literário e artístico da Paraíba.

2. A escritora paraibana Jô Mendonça lança no Salão do Livro de Paris o seu livro Eux de Mots em Poésie (Jogo de Palavras), edição bilíngüe Português/Francês, no dia 18 de Março, ás 20 horas. O evento, um dos mais importantes do gênero, se realiza na capital francesa no período de 17 a 21 de março de 2011.

3. Saiu a Programação completa da II FLIBO (Feira Literária de Boqueirão), que ocorrerá de 24 a 27 de março. A temática do evento será: Diversidade e Identidade Cultural: Preservando os saberes e fazeres de um povo. Estarei presente no encontro realizando a palestra “Regionalismo na Literatura: O Nordeste ontem e Hoje” no dia 25 de Março, sexta-feira, ás 9 horas, no CEFAR.

4. O escritor Marcelino Freire volta a ter um blog: http://marcelinofreire.wordpress.com/. Na ultima década, o seu antigo blog Eraodito, fui um sucesso, graças às boas informações e doses únicas do humor, deste que é com certeza um dos mais importantes nomes da literatura contemporânea brasileira. Nascido em Pernambuco, o escritor é autor de Contos Negreiros, Angu de Sangue, entre outros.

5. Toda semana vários textos dos membros do Caixa Baixa: http://caixabaixa.org/ crônicas, contos, ensaios, poemas... Não deixem de conhecer!

6. Recebi a noticia da própria Secretária de Estado da Cultura da Paraíba, que o gerente de difusão literária será o historiador e professor José Octávio de Arruda e Melo. Para ser sincero estranhei bastante a indicação deste nome. Apesar de reconhecer as inegáveis colaborações intelectuais do professor, seu perfil não me parece o mais adequado para a função. José Octávio de Arruda e Melo não dá a impressão de ser uma pessoa dinâmica e atualizada com um conjunto de escritores, grupos e associações que estão movimentando a produção literária local na atualidade. Entretanto, apesar disso tudo, desejo sorte ao historiador, para que ele realize alguma boa política pública para área literária do estado.

7. Além de ser um dos jornalistas mais conceituados, um dos poetas mais inventivos, Linaldo Guedes é um observador agudo da política do estado da Paraíba. Gostei bastante do blog de política deste escritor. Conheçam: http://linaldoguedes.blogspot.com/

8. Ontem foi o Dia Nacional da Poesia. Mas do que tudo me sinto poeta. É inegável a importância da poesia para o aperfeiçoamento da linguagem. Parabéns poetas!

9. Amanhã haverá o Lançamento do livro de contos "O professor de piano" de Rinaldo de Fernandes em Campina Grande, às 10 horas da manhã, no auditório da sala 15 da UFCG. Na ocasião o escritor e professor realizará a Palestra: O escritor nordestino e o mercado editorial. Não percam!

10. O professor e Historiador Giscard Agra Lançará o livro "Modernidade aos goles: a produção de uma sensibilidade moderna em Campina Grande, 1904 a 1935". O Lançamento em João Pessoa será no dia 24 de março (na Faculdade de Direito, Praça João Pessoa, centro); em Campina Grande, no dia 31 de março (Centro de Extensão da UFCG, Bodocongó). O livro sai pela editora EDUFCG.

11. Dia 25 de março estará acontecendo no Museu do Cangaço (Serra Talhada/PE) a 1ª Feira de Literatura de Cordel do Sertão. Aliás, o tema cordel será o da próxima novela da Rede Globo de Televisão: Cordel Encantado.

12. O Departamento de Comunicação da Universidade Estadual da Paraíba abriu inscrições para Curso em Produção de Documentários: http://www.uepb.edu.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2341 . O mesmo departamento promoverá ainda o Encontro de Educomunicação. Mais informações no site: http://www.uepb.edu.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2334

13. Nestes dias sai o oitavo número da Revista Blecaute. Fiquem ligados!

SUCESSO DO II ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORANEA - FOTOS DO 1 DIA


Palestra de Ronaldo Monte, mediada por mim.



Mesa- Redonda com Rinaldo de Fernandes e Teo Lorent, mediada por João Matias de Oliveira.



público durante a palestra de Ronaldo Monte



Mesa-redonda com Jairo César, Mirtes Waleska e Lau Siqueira, Mediada por Jãn Macêdo.

sábado, 5 de março de 2011

CONVIDADOS DO II ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORÂNEA



LAU SIQUEIRA – Poeta gaúcho radicado na Paraíba (João Pessoa). Autor dos seguintes livros de poemas: O Comício das Veias (Idéia, 1993), O Guardador de Sorrisos (Trema, 1998), Sem Meias Palavras (Idéia, 2002) e Texto Sentido (Bagaço, 2007). Diretor adjunto da FUNJOPE - Fundação Cultural de João Pessoa. Tem vários poemas publicados nos principais sites e blogs de literatura do país. Edita o blog: http://poesia-sim-poesia.blogspot.com/


Lau Siqueira estará presente no primeiro dia do II Encontro de Literatura Contemporanea (06 de Março), ás 14h00, na Mesa-Redonda II: Livro, leitura e literatura: a produção de eventos, juntamente com os poetas Mirtes Waleska (PB) e Jairo César (PB).

sexta-feira, 4 de março de 2011

CONVIDADOS DO II ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORÂNEA



THIAGO LIA FOOK – Poeta paraibano (Campina Grande/ João Pessoa). Autor do livro: Poesia Natimorta e versos sobreviventes (Poesia, Bagagem, 2010). Mestre em Ciências Jurídicas (Direito Econômico) pela UFPB, ganha a vida momentaneamente como analista judiciário da Justiça Eleitoral, enquanto se prepara para trocar a vida burocrática pela acadêmica. Possui algumas publicações em algumas revistas literárias (a exemplo da Revista Sibila, Germina Literatura e Revista Blecaute). Edita o blog (http://thiagoliafook.blogspot.com).

O poeta Thiago Lia Fook estará presente no II Encontro de Literatura contemporânea, na próxima segunda-feira, dia 07 de Março, ás 10h30, na Mesa-Redonda IV, intitulada Poesia e(m) Prosa: Modelos e alternativas de publicação, juntamente com os escritores Roberto Menezes (PB/PE) e André de Sena (PE).

AS MULHERES DE QORPO-SANTO

Por Bruno Gaudêncio
I. Qorpo Santo: um corpo que queria ser santo.

José Joaquim de Campos Leão, mais conhecido como Qorpo-Santo, (1829-1883), pseudônimo que ele próprio se deu em sua mocidade, nasceu na Vila do Triunfo, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Suas peças levaram cerca de um século para serem encenados, sendo tanto elas, como seus dados biográficos terem chegados aos nossos dias de forma totalmente fragmentada. O motivo, segundo os estudiosos, - dentre eles Euclynir Fraga, - um dos maiores estudiosos de sua obra, - foi à invenção de uma dramaturgia irreverente e de um absoluto desprezo as convenções, ao contrário do Teatro produzido em sua época, marcado pelos costumes convencionais burgueses. Mestre-escola em diversas vilas e cidades do interior do Rio Grande do Sul, Qorpo-Santo casou-se em 1856, tendo quatro filhos. Entre 1862-1864 começou a ter problemas com a justiça, sendo acusado de alienação, o que terminou por conduzi-lo até o Rio de Janeiro, sendo examinado no hospício D. Pedro II (1868). Os médicos diagnosticaram uma exaltação cerebral e uma monomania (caso específico da escrita).
Sua obra foi “desencantada” a cerca de 50 anos por alguns intelectuais do Rio Grande do Sul, através da descoberta de sua incrível Ensiqlopédia qorposantense, que se componha de nove volumes, súmula do seu pensamento e de suas idéias. Nelas habitam vários poemas, reflexões, sobre política, moral, ética jornalística, anúncios, bilhetes, máximas, tudo amontoado sem nenhuma preocupação com a organização. Dos noves volumes que foram editadas nos idos de 1870, apenas seis chegaram até o momento entre nós. Entre estes escritos descobertos está o material de nosso da qual nos serve o olhar, que é considerado a parte de melhor qualidade de sua obra: as peças teatrais.
As dezessete peças existentes encontram-se no volume IV da Ensiqlopédia, e foram escritas entre os dias 31 de janeiro e 16 de maio de 1866. Boa tarde dos textos jamais foi montado. Destaque maior para os textos: Mateus e Mateusa, A Impossibilidade da Santificação e Hoje sou um; e amanhã outro.
Um dos aspectos mais interessantes da obra de Qorpo-Santo foi sua proposta de reforma ortográfica, daí a grafia do seu nome Qorpo e do vocabulário Ensiqlopédia. Abordando temas ousados em relação aos que correntes no seu tempo, tais como: o incesto, o homossexualismo, o adultério, seus personagens, tanto homens, como mulheres, são sujeitos presos em contradições terríveis, amparadas por uma atmosfera caótica e profundamente demarcada por situações de injustiça e angústia. Segundo Euclynir Fraga (2001) “na Dramaturgia de Qorpo-Santo inexiste qualquer preocupação de coerência psicológica na construção das personagens: são personalidades intercambiáveis que mudam de nome sem qualquer necessidade visível, deambulando por espaços inexplicáveis, nos quais o tempo se torna, ele próprio, uma ficção. Por conseguinte, desaparece qualquer tipo de verossimilhança mimética com o que se convenciona denominar “realidade quotidiana”, decorrência, na verdade, da falta de contorno das personagens e do mundo em que transita.”
De acordo com historiador literário Guilhermino César (1971), um dos seus “descobridores”, Qorpo-Santo teria sido o criador do chamado Teatro do absurdo em pleno século XIX, pois as características de sua obra são consideradas modernas, e se comparariam a Ionesco, ou mesmo Jarry. Vejamos como o autor se refere ao dramaturgo gaúcho: “É com toda certeza, o criador do “Teatro do Absurdo”; veio muito antes de um Jarry e de um Vian, precedeu Ionesco na ousadia das soluções. Não conhecemos, em língua portuguesa, ninguém que lhe compare. Embora em muitas vezes não chegue a ser congruente, a ação que imagina, em termos de aliciante inventiva, deixa entrever uma concepção que está atual em qualquer época.”
Na contramão deste pensamento o próprio Euclynir Fraga discorda desta afirmativa. Para o ensaísta as peças teatrais de Qorpo-Santo se assemelham mais as características do surrealismo de André Breton e Duchamp, do quê o do Teatro de Absurdo, de Ionesco e Vian. “Pois no mundo dos sonhos recuperados, do mergulho no insciente, é que deve ser encaixada a obra de Qorpo-Santo”, se refere Euclynir Fraga. Todavia, longe destas tentativas explicativas o que fica claro é um sentido de representar em uma escrita uma crise existencial íntima, apontando os paradigmas e os valores morais da sociedade como fatores principais da crise do homem, em meio à loucura e a razão. Desta maneira, o propósito deste pequeno Ensaio será investigar as representações de gênero feminino no universo do Teatro de Qorpo-Santo, compreendendo assim como esse dramaturgo construiu em suas peças teatrais os diversos processos de relações dinâmicas de gênero.

II. Qorpo Santo: O discurso feminino como representação da conquista de um espaço manifestação.

Na obra de Qorpo Santo (2001) o lugar privilegiado das ações dramáticas é o espaço da casa, ou seja, o da residência familiar, - sendo um recinto de múltiplos conflitos nos quais seus personagens se mostram em verdadeiros dilemas de relações interpessoais. A maior parte das tramas é construída dentro de uma relação familiar simples (pai /mãe / filho (as)), em uma lógica de conflitos discursivos de teor moral e religioso, onde a desrazão se sobressai a razão nas falas dos personagens.
A prioridade quase sempre é dialogo entre o marido e a esposa nas ações familiares. Na peça O Hóspede Atrevido ou o Brilhante Escondido, o autor revela através da voz do personagem principal Ernesto qual deveria ser a função do homem e da mulher na sociedade de sua época. Depois de referir-se ao homem como um ser que teria a função única de produzir serviços ligados a pena, a palavra e a espada, assim Ernesto distingue as mulheres em relação aos homens “Quanto às mulheres, elevam-se e brilham por sua conduta moral, pela obediência, respeito e afeto para com seus pais; pelo recato e honestidade em suas maneiras e em seus vestidos, pela brandura, suavidade e encanto pela sua palavra; pela escolha dos trabalhos mais delicados e dos prazeres inocentes, pelo gosto e pela perseverança nos estudos das pelas artes , belas –artes e de tudo o mais que lhe é próprio e que pode concorrer para que sejam sociais; inteligentes, boas filhas, boas mães, boas esposas e respeitáveis senhoras.”
Em uma outra peça intitulada A Separação de Dois Esposos, Esculápio (protagonista) em mais um conflito de casais refere-se à função primordial da mulher: “È dever das mulheres cuidarem de tudo quanto se acha das portas para dentro, inclusive os maridos”. (QORPO-SANTO, 2001, p. 209). Todavia, esta função de cuidar dos afazeres domésticos, de criar os filhos, de ser dedicada ao marido dificilmente acontece entre as mulheres personagens de Qorpo-Santo. Pois suas posturas radicalizam em suas indignações de falas, a mulher reage a cada discurso do marido, impõe pensamentos, questiona-o a autoridade, inclusive se referindo a prática da infidelidade, como acontece na Peça Mateus e Mateusa, - uma das mais interessantes produzidas pelo dramaturgo gaúcho. Nesta comédia, o mote mais uma vez é o conflito de casais. A traição conjugal parece ser comum numa lógica de escape às perturbações das relações várias da obras. Mateusa é a mulher que se mostra, se revela, e que principalmente que “bate de frente” com o marido. Segundo Lileana Franco de Sá “Para um autor como Qorpo-Santo, que abriu espaço para as minorias em seu teatro, a personagem Mateusa ganhou em qualidade ao fazer essa atualização da mulher do século XIX, para a mulher do século XX.”
Em outra obra, intitulada Relações Naturais o teatro carnavalizado de Qorpo-santo (no sentido de Bakhtin) cria seu espaço social. O lar pode ser bordel e a casa, assim como a rua, mostra-se lugar de perdição. As mulheres da vida não são apenas as prostitutas, mas todas aquelas que conseguem romper com o espaço da casa. Na realidade muitas vezes a mulher segundo Corpo-Santo é uma portadora de pegados, e causa principal da não santificação dos homens, como é caso da peça considerada a mais autobiográfica de todas (A Impossibilidade de Santificação). O personagem C.S se refere assim “Eu te suspenso, mulher maligna, a maldição de eu foste digna. Retira-te, porém, de minha presença; e nunca mais ouses vir insultar a quem só se ocupa em promover o bem geral de todos” (QORPO-SANTO, 2001, p.53). O discurso autobiográfico do personagem que tem as mesmas iniciais do autor demonstra o fato e o processo de interdição movido por sua esposa, e de outro a perseguição que sofreu por suas idéias em relação à arte, e que não eram aceitas pelos grupos intelectuais de seu tempo.
Desta maneira, podemos assim compreender que a mulher no universo teatral de Qorpo-Santo não se situa como virgem romântica, nem como rainha do lar. Longe de encarnar o papel de vítimas do dever, as personagens femininas constroem gestos de briga e de abrigo dentro do espaço terrestre da casa. O discurso feminino toma corpo através da representação da conquista de um espaço manifestação. Portanto, longe das já conhecidas representações do gênero feminino na dramaturgia e na literatura no século XIX, a mulher na obra teatral de Qorpo-Santo possui um discurso feminino como representação da conquista de um espaço manifestação.

Referencias Bibliográficas

CÉSAR, Guilhermino. História da Literatura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1971.
FRANCO DE SÁ, Lileana Mourão. A Casa Qorposantense. In: Encontro Regional da ABRALIC 2007. São Paulo, USP, 2007.
QORPO-SANTO. Teatro Completo. Coleção Clássicos do teatro Brasileiro. Fixação. Estudos críticos e notas por Guilermino César. Rio de Janeiro: Serviço nacional l do Teatro/FUNARTE, 1980.
¬¬_____________. Teatro Completo. Apresentação por Euclynir Fraga. São Paulo: Iluminuras, 2001.




Ensaio publicado em 2009 no Correio das Artes (Suplemento Cultural do Jornal A União)

quinta-feira, 3 de março de 2011

CONVIDADOS DO II ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORÂNEA




RICARDO KELMER – Escritor e Roteirista cearense radicado em São Paulo, SP. É autor de diversos livros, destaque para A Arte de Tanger Caranguejo (Crônicas, Miragem Editorial, 2003), Baseado Nisso (Contos, Miragem Editorial, 2005), Blues da Vida Crônica (Crônicas, Miragem Editorial, 2007). Seu romance O Irresistível Charme da Insanidade (PauBrasil, 2010) acaba de ser reeditado em São Paulo. Edita o blog: http://blogdokelmer.wordpress.com

O escritor Ricardo Kelmer estará presente no II Encontro de Literatura Contemporanea, no dia 07 de Março (segunda-feira), ás 14h00, na Mesa- redonda V: Literatura e Entretenimento: Na busca de um leitor constante, juntamente com os escritores Mabel Amorim (PB/AL) e Efigênio Moura (PB).

quarta-feira, 2 de março de 2011

CONVIDADOS DO II ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORÂNEA



BRUNO R.RIBEIRO SANTOS – Escritor e publicitário mineiro radicado na Paraíba (Campina Grande). Trabalha na agência Imagem & Propaganda como redator e é colunista do site Estação Jovem (um dos mais visitados da Paraíba). Tem Publicado em sete antologias de contos, incluindo Em Nome de Deus da editora Estronho, Letras da Paixão e Casos Minimalistas, em revistas, teve publicações na Avessa e Blecaute. Pretende publicar seu primeiro romance ainda este ano, intitulado “Os Educadores”. Edita os blogs: quebrandoogenio.wordpress.com e cafesamedi.wordpress.com

O jovem escritor Bruno Ribeiro estará mediando a Mesa-Redonda IV: Poesia e(m) Prosa: Modelos e alternativas de publicação, no qual participarao os escritores: Thiago Lia Fook (PB), Roberto Menezes (PB/PE) e André de Sena (PE). A mesa ocorrerá ás 10h30, no dia 07 de Março, próxima segunda.

terça-feira, 1 de março de 2011

A NOVA LITERATURA PARAIBANA EM ALTA

Jovens escritores criam grupo CAIXA BAIXA e querem influenciar nos destinos da literatura paraibana

Por Linaldo Guedes


O primeiro encontro deles aconteceu no Bar do Elvis, no Altiplano, em João Pessoa. Apesar da provável analogia com o Rei do Rock que o bar induz, eles não querem ser os novos reis da literatura paraibana. Pelo contrário, abusam da humildade quando falam dos planos e objetivos do CAIXA BAIXA, o mais novo grupo literário da Paraíba. Ao contrário de outros que surgiram ao longo do tempo – como Sanhauá, Garatuja, Poecodebar e até o Clube do Conto -, este novo grupo não se restringe a João Pessoa e Campina Grande. Escudados nas facilidades do mundo virtual, atinge outras regiões do estado, como Cajazeiras e Santa Luzia, por exemplo.

Mas, na verdade, como surgiu a idéia do grupo? O Contraponto foi atrás dos três líderes do CAIXA BAIXA – os poetas Jairo Cezar e Bruno Gaudêncio e o ficcionista Betomenezes para saber como tudo começou e quais os ideais do grupo.

Segundo Betomenezes, presidente do grupo, a idéia surgiu de conversas na feira do livro, no fim do ano passado. “Sinceramente, me veio a idéia de uma reunião informal para que pessoas que tivessem algum envolvimento com a área da literatura se conhecessem. Percebi que havia muita gente, até com livros publicados, que não se conheciam”. A idéia foi se materializando em discussões com as pessoas que formaram a base do núcleo. Em especial, Jairo Cezar, que fincou o pé com a proposta de oficializar algum grupo. Deu certo. Na primeira reunião, cerca de 20 jovens escritores compareceram. Estava lançada a base para o novo grupo literário da Paraíba.

A primeira reunião foi regada à birita no Bar do Elvis, no dia 15 de Janeiro. “A receptividade foi excelente, mas um pouco confusa pela parte de todos, pois era algo novo que precisava ser digerido com os dias”, confessa Beto. “Estávamos separados, cada um na sua, o CAIXA BAIXA nos uniu”, enfatiza Jairo, o vice-presidente do grupo.

Não há um número exato de integrantes do grupo. Beto e Jairo acreditam que em torno de 20. “Alguns não foram em uma das reuniões, outros estão virtualmente dentro do grupo”, define Beto. Mas não há um consenso sobre estes números. Bruno Gaudêncio, secretário geral do grupo, também contabiliza 20. Mas aumenta para 25, contando autores que participam de listas de discussões na net. “A intenção é formalizar o Caixa Baixa, criar um estatuto, fazer dele uma associação, legitimar a diretoria e tudo assim. Só assim teremos um controle dos integrantes, que no caso tornarão-se sócios”, teoriza Bruno. Sobre ser aberto ou não, não há uma decisão ainda fechada sobre isto. “Não sabemos como este bebê que ainda está se engatinhando vai se comportar nas próximas reuniões”, diz Beto.

Será que existem critérios para entrar no grupo? Com a palavra os jovens escritores.

- Os critérios, de novo, não estão bem claros. Sabemos que tem que ter algum envolvimento com as palavras. Falo isto para não ficar catalogando as pessoas em estilos. Inicialmente, quem se considerar novo na área e quiser mostrar a que veio pode se chegar. Agora, critérios de qualidade, estética, estas coisas, ainda serão determinados em futuras reuniões – alerta Beto.

- O critério atual é ser escritor. No início, era simplesmente ser um jovem escritor. Entretanto, não poderíamos excluir nomes que de certa maneira tem uma maior idade do que a nossa, mas possui as mesmas dificuldades, seja de divulgação, publicação e público. Em breve estipularemos regras mais rígidas – avisa Bruno.

- Ser escritor, gostar de literatura e contribuir para o fortalecimento do grupo – resume, com propriedade, Jairo.

Se neste ponto, eles divergem, quando se fala nos objetivos do grupo são quase consensuais: reunir escritores, falar sobre literatura, ler, mostrar a cara. Dizer que há muita gente boa fazendo literatura na Paraíba. Enfim, ocupar espaços. “Também temos a preocupação de formar leitores. Acho suicídio escrever só para escritores. Precisamos chegar nas escolas, no povo”, afirma Jairo.

E Beto acrescenta, de forma metódica, sobre os objetivos do CAIXA BAIXA: mostrar novos nomes na área das palavras paraibana; fazer conexões entre eles; criar um selo, onde serão publicados títulos dos participantes (os critérios ainda não foram definidos); tentar levar a literatura a novos leitores; manifestar-se de maneira unida (e até certo ponto cooporativística) sobre as políticas culturais voltadas às letras pelos governos.

Referências vão de Stephen King a Augusto dos Anjos

Em relação às referências literárias dos principais integrantes do grupo, eles vão de acordo com suas influências pioneiras. Beto, por exemplo, cresceu querendo escrever igual a Stephen King. “Na Paraíba, fora os antigões, gosto da poesia dos 80, alguma coisa da geração de 60. Também gosto do que vem sendo publicado ultimamente. Vejo apenas que a prosa da Paraíba padece de mais atenção, mas no Clube do Conto convivo com pessoas que viraram minhas referências, além das que eu já tinha. Fora do estado, gosto de muita coisa escrita em fluxo de consciência, salvo Caio Fernando Abreu”.

Bruno diz que cada um tem suas referencias. “No grupo cada cabeça é um mundo. Não somos um Grupo estilo vanguarda, estilo movimento. Somos um círculo de escritores em busca de melhores oportunidades. Não temos unidade estética. Nem de gênero, Temos romancistas (a exemplo de Roberto Denser e Roberto Menezes), contistas (a exemplo de João Matias e Laudelino Menezes) poetas (como Joedson Adriano e Anna Apolinário), ensaístas (como Fábio Vieira)...e assim vai. Cada escritor do grupo tem sua experiência, não da para falar em referencias em conjunto”.

Já as referências de Jairo Cezar são essencialmente poéticas: Augusto dos Anjos, Sérgio de Castro Pinto, Vanildo Brito, Águia Mendes, Leandro Gomes de Barros, Zé da Luz, Linaldo Guedes, Lau Siqueira, Lenilde Freitas, André Ricardo e Antônio Mariano. Fora da Paraíba, João Cabral, Cruz e Souza, Gregório de Matos, Fernando Pessoa, entre outros. “Além de coisas novas que descubro o tempo todo”.

E em relação a demais grupos literários que existiram na Paraíba antes do CAIXA BAIXA? Beto confessa ter pouco conhecimento. “Mas o que eu conheço destes grupos é que eles tinham um principal objetivo estético, que não é, a priori, o nosso”. Jairo é mais enfático e cita a geração de 59, o Jaguaribe Carne, a movimentação recente de Astier, Linaldo, Mariano e André Ricardo Aguiar. “Acho necessário um diálogo com esses poetas. É preciso conhecer o passado, saber o que aconteceu para não se ter a ilusão de que estamos inventando o mundo”, diz com humildade. E Bruno se confessa um estudioso desses grupos: “Em Campina, houve muitos grupos assim ao longo do Século XX, alguns formais, outros menos, a exemplo da Fruteira do Cristino Pimentel, do Calda de Cana do Hortensio, do grupo do Gabinete de Leitura 7 de Setembro, Clube Literário Machado de Assis...mais recente o grupo da Revista Garatuja...etc...em João Pessoa, lembro do Grupo Caravela, Sanhauá, estes grupos vanguardistas”.

E numa coisa todos concordam: as facilidades do mundo moderno agilizam uma massificação maior do CAIXA BAIXA. Todos os dias, pela internet, eles travam algum dialogo. “Apresentamos nossas obras, nos organizamos. No momento estamos organizando uma revista, que será editada pelo Joedson Adriano. Eu, Jairo e Mirtes estamos organizando eventos em nossas cidades, os membros do Caixa Baixa sendo convidados...e assim vai”. Para Beto, hoje é mais fácil proliferar qualquer tipo de coisa através de mídias do que no tempo do mimeógrafos. Coisas boas e coisas ruins. “O nosso papel enquanto o grupo é sermos autocríticos para divulgarmos ao máximo o primeiro tipo de coisas”. E Jairo entende “que através das redes sociais, blogs e afins podemos chegar em qualquer lugar”. Que assim seja, para a renovação da literatura paraibana.

(Matéria publicada no jornal Contraponto de Março de 2011 e republicada no blog do Linaldo Guedes: http://linaldoguedes.blog.uol.com.br/)

CONVIDADOS DO II ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORÂNEA




EFIGENIO MOURA – Escritor e Radialista paraibano (Monteiro). Autor dos livros: Eita Gôta (Romance, UFPB, 2009) e Ciço de Luzia (Romance, Lattus, 2010). Formado em Marketing, sua obra é profundamente marcada pelas questões regionais. Seu primeiro livro conquistou um expressivo sucesso editorial na Paraíba e região.

O escritor Efigênio Moura estará no dia 7 de Março no II Encontro de Literatura Contemporânea, no CEDUC II, a partir das 14h00 na Mesa- redonda V: Literatura e Entretenimento: Na busca de um leitor constante, juntamente com os escritores Mabel Amorim e Ricardo Kelmer. Seu discurso versará sobre estratégias de conquista de leitores, bem como os usos do marketing na venda de livros.