terça-feira, 1 de março de 2011

A NOVA LITERATURA PARAIBANA EM ALTA

Jovens escritores criam grupo CAIXA BAIXA e querem influenciar nos destinos da literatura paraibana

Por Linaldo Guedes


O primeiro encontro deles aconteceu no Bar do Elvis, no Altiplano, em João Pessoa. Apesar da provável analogia com o Rei do Rock que o bar induz, eles não querem ser os novos reis da literatura paraibana. Pelo contrário, abusam da humildade quando falam dos planos e objetivos do CAIXA BAIXA, o mais novo grupo literário da Paraíba. Ao contrário de outros que surgiram ao longo do tempo – como Sanhauá, Garatuja, Poecodebar e até o Clube do Conto -, este novo grupo não se restringe a João Pessoa e Campina Grande. Escudados nas facilidades do mundo virtual, atinge outras regiões do estado, como Cajazeiras e Santa Luzia, por exemplo.

Mas, na verdade, como surgiu a idéia do grupo? O Contraponto foi atrás dos três líderes do CAIXA BAIXA – os poetas Jairo Cezar e Bruno Gaudêncio e o ficcionista Betomenezes para saber como tudo começou e quais os ideais do grupo.

Segundo Betomenezes, presidente do grupo, a idéia surgiu de conversas na feira do livro, no fim do ano passado. “Sinceramente, me veio a idéia de uma reunião informal para que pessoas que tivessem algum envolvimento com a área da literatura se conhecessem. Percebi que havia muita gente, até com livros publicados, que não se conheciam”. A idéia foi se materializando em discussões com as pessoas que formaram a base do núcleo. Em especial, Jairo Cezar, que fincou o pé com a proposta de oficializar algum grupo. Deu certo. Na primeira reunião, cerca de 20 jovens escritores compareceram. Estava lançada a base para o novo grupo literário da Paraíba.

A primeira reunião foi regada à birita no Bar do Elvis, no dia 15 de Janeiro. “A receptividade foi excelente, mas um pouco confusa pela parte de todos, pois era algo novo que precisava ser digerido com os dias”, confessa Beto. “Estávamos separados, cada um na sua, o CAIXA BAIXA nos uniu”, enfatiza Jairo, o vice-presidente do grupo.

Não há um número exato de integrantes do grupo. Beto e Jairo acreditam que em torno de 20. “Alguns não foram em uma das reuniões, outros estão virtualmente dentro do grupo”, define Beto. Mas não há um consenso sobre estes números. Bruno Gaudêncio, secretário geral do grupo, também contabiliza 20. Mas aumenta para 25, contando autores que participam de listas de discussões na net. “A intenção é formalizar o Caixa Baixa, criar um estatuto, fazer dele uma associação, legitimar a diretoria e tudo assim. Só assim teremos um controle dos integrantes, que no caso tornarão-se sócios”, teoriza Bruno. Sobre ser aberto ou não, não há uma decisão ainda fechada sobre isto. “Não sabemos como este bebê que ainda está se engatinhando vai se comportar nas próximas reuniões”, diz Beto.

Será que existem critérios para entrar no grupo? Com a palavra os jovens escritores.

- Os critérios, de novo, não estão bem claros. Sabemos que tem que ter algum envolvimento com as palavras. Falo isto para não ficar catalogando as pessoas em estilos. Inicialmente, quem se considerar novo na área e quiser mostrar a que veio pode se chegar. Agora, critérios de qualidade, estética, estas coisas, ainda serão determinados em futuras reuniões – alerta Beto.

- O critério atual é ser escritor. No início, era simplesmente ser um jovem escritor. Entretanto, não poderíamos excluir nomes que de certa maneira tem uma maior idade do que a nossa, mas possui as mesmas dificuldades, seja de divulgação, publicação e público. Em breve estipularemos regras mais rígidas – avisa Bruno.

- Ser escritor, gostar de literatura e contribuir para o fortalecimento do grupo – resume, com propriedade, Jairo.

Se neste ponto, eles divergem, quando se fala nos objetivos do grupo são quase consensuais: reunir escritores, falar sobre literatura, ler, mostrar a cara. Dizer que há muita gente boa fazendo literatura na Paraíba. Enfim, ocupar espaços. “Também temos a preocupação de formar leitores. Acho suicídio escrever só para escritores. Precisamos chegar nas escolas, no povo”, afirma Jairo.

E Beto acrescenta, de forma metódica, sobre os objetivos do CAIXA BAIXA: mostrar novos nomes na área das palavras paraibana; fazer conexões entre eles; criar um selo, onde serão publicados títulos dos participantes (os critérios ainda não foram definidos); tentar levar a literatura a novos leitores; manifestar-se de maneira unida (e até certo ponto cooporativística) sobre as políticas culturais voltadas às letras pelos governos.

Referências vão de Stephen King a Augusto dos Anjos

Em relação às referências literárias dos principais integrantes do grupo, eles vão de acordo com suas influências pioneiras. Beto, por exemplo, cresceu querendo escrever igual a Stephen King. “Na Paraíba, fora os antigões, gosto da poesia dos 80, alguma coisa da geração de 60. Também gosto do que vem sendo publicado ultimamente. Vejo apenas que a prosa da Paraíba padece de mais atenção, mas no Clube do Conto convivo com pessoas que viraram minhas referências, além das que eu já tinha. Fora do estado, gosto de muita coisa escrita em fluxo de consciência, salvo Caio Fernando Abreu”.

Bruno diz que cada um tem suas referencias. “No grupo cada cabeça é um mundo. Não somos um Grupo estilo vanguarda, estilo movimento. Somos um círculo de escritores em busca de melhores oportunidades. Não temos unidade estética. Nem de gênero, Temos romancistas (a exemplo de Roberto Denser e Roberto Menezes), contistas (a exemplo de João Matias e Laudelino Menezes) poetas (como Joedson Adriano e Anna Apolinário), ensaístas (como Fábio Vieira)...e assim vai. Cada escritor do grupo tem sua experiência, não da para falar em referencias em conjunto”.

Já as referências de Jairo Cezar são essencialmente poéticas: Augusto dos Anjos, Sérgio de Castro Pinto, Vanildo Brito, Águia Mendes, Leandro Gomes de Barros, Zé da Luz, Linaldo Guedes, Lau Siqueira, Lenilde Freitas, André Ricardo e Antônio Mariano. Fora da Paraíba, João Cabral, Cruz e Souza, Gregório de Matos, Fernando Pessoa, entre outros. “Além de coisas novas que descubro o tempo todo”.

E em relação a demais grupos literários que existiram na Paraíba antes do CAIXA BAIXA? Beto confessa ter pouco conhecimento. “Mas o que eu conheço destes grupos é que eles tinham um principal objetivo estético, que não é, a priori, o nosso”. Jairo é mais enfático e cita a geração de 59, o Jaguaribe Carne, a movimentação recente de Astier, Linaldo, Mariano e André Ricardo Aguiar. “Acho necessário um diálogo com esses poetas. É preciso conhecer o passado, saber o que aconteceu para não se ter a ilusão de que estamos inventando o mundo”, diz com humildade. E Bruno se confessa um estudioso desses grupos: “Em Campina, houve muitos grupos assim ao longo do Século XX, alguns formais, outros menos, a exemplo da Fruteira do Cristino Pimentel, do Calda de Cana do Hortensio, do grupo do Gabinete de Leitura 7 de Setembro, Clube Literário Machado de Assis...mais recente o grupo da Revista Garatuja...etc...em João Pessoa, lembro do Grupo Caravela, Sanhauá, estes grupos vanguardistas”.

E numa coisa todos concordam: as facilidades do mundo moderno agilizam uma massificação maior do CAIXA BAIXA. Todos os dias, pela internet, eles travam algum dialogo. “Apresentamos nossas obras, nos organizamos. No momento estamos organizando uma revista, que será editada pelo Joedson Adriano. Eu, Jairo e Mirtes estamos organizando eventos em nossas cidades, os membros do Caixa Baixa sendo convidados...e assim vai”. Para Beto, hoje é mais fácil proliferar qualquer tipo de coisa através de mídias do que no tempo do mimeógrafos. Coisas boas e coisas ruins. “O nosso papel enquanto o grupo é sermos autocríticos para divulgarmos ao máximo o primeiro tipo de coisas”. E Jairo entende “que através das redes sociais, blogs e afins podemos chegar em qualquer lugar”. Que assim seja, para a renovação da literatura paraibana.

(Matéria publicada no jornal Contraponto de Março de 2011 e republicada no blog do Linaldo Guedes: http://linaldoguedes.blog.uol.com.br/)

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